Presidente da Unica, que representa a indústria de cana do centro sul, Evandro Gussi reforçou a urgência de medidas de apoio ao setor sucroenergético na crise
Usinas da região Centro-Sul do Brasil podem começar a suspender atividades em um período de dez dias a duas semanas, caso o setor não receba a ajuda do governo para superar a crise motivada pelo avanço da pandemia de coronavírus. Foi o que disse o presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Evandro Gussi, nesta terça-feira (28/4).
“Sem medidas no curtíssimo prazo, o setor começa a parar suas unidades com prejuízo para toda a cadeia. Toda a lição de casa já foi feita pelo setor, redução de custos, direcionamento de operações. Nossa parte já foi feita”, afirmou Gussi, dizendo que os casos de suspensão de moagem registrados até agora são pontuais e reforçando a urgência que o setor tem de ser atendido por um pacote de ajuda do governo federal.
A crise trazida pelo coronavírus teve forte impacto no setor. Com as medidas de isolamento social, o consumo de combustíveis despencou, pressionando os preços do etanol. A situação foi agravada por uma guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita, que ajudou a acentuar os preços internacionais do petróleo, outro fator que trouxe consequências para o mercado do biocombustível de cana.
Mesmo o açúcar, para o qual grande parte das usinas poderia redirecionar seu mix de produção, não está em situação favorável. Os preços também têm sido pressionados para baixo, apesar das quebras de produção registradas em importantes países produtores, como Índia e Tailândia. Mesmo que a situação estivesse melhor, essa capacidade de redirecionamento de produção por parte da indústria também é limitada.
Bom resultado no campo
Todo esse cenário desfavorável se formou em meio a uma melhora da produtividade da cana no campo e a expectativa de aumento da matéria-prima processada na safra 2020/2021, iniciada em 1º de abril. Gussi destaca que a cana, quando chega no ponto de maturação, tem que ser colhida e seu processamento industrial deve ser feito em até 48 horas, o que impede o produtor ou a usina de estocar a planta.
“Estamos em um momento de apreensão porque esse cenário é insustentável para o setor no curto prazo. Estamos dependendo de medidas que podem evitar um colapso do setor, que, passada a crise, tem todas as bases e todo o endereçamento para continuar oferecendo ao Brasil o que tem de melhor”, afirmou Gussi, se mostrando favorável também à revisão de metas do programa Renovabio para este ano.
Reivindicações
Entre as medidas que o setor reivindica da parte do governo, estão a suspensão temporária da cobrança de PIS/Cofins sobre o etanol e aumento da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina. A indústria de açúcar e etanol pede também uma linha de financiamemento para estocagem do etanol, que coloque o produto como garantia, um mecanismo conhecido como warrantagem.
Segundo Evandro Gussi, o Ministério da Agricultura já manifestou apoio às medidas tributárias e o Ministério de Minas e Energia tem nas mãos todos os cálculos necessários. O que ele diz esperar é que o Ministério da Economia reconheça a importância de dar apoio neste momento emergencial, já que se trata de um setor que está em 1,2 mil cidades brasileiras e, em boa parte deles, é essencial para a atividade econômica.
“Temos contribuído com dados, com toda a parte técnica que a Unica possui. Não é recurso público. Queremos recurso privado, ainda que deva haver uma dosagem do setor público. É para sempre? Não. É temporário, extraordinário, dada a situação que nós estamos vivendo”, disse o presidente da Unica.
Revista Globo Rural